Fui mais uma vez ao psiquiatra, já sem muita esperança pois parece que esses meus sentimentos ruins não saem de mim. Enfim, fui lá e praticamente supliquei por ajuda, o negócio é que abri o jogo com ele, não estava (estou) mais aguentando as crises depressivas e ansiosas.
Ele me passou Bromazepam de novo, outro ansiolítico e antidepressivo chamado Paxtrat e o tal do Rivotril pra casos de emergência.
Ontem à noite tive outra crise muito forte. Primeira coisa que faço é tomar o Rivotril. Efeito aparente? Pouquíssimo, continuo sentindo mal estar no meu corpo. Resisto algumas horas. Algumas horas depois tomo o Bromazepam e o Paxtrat, penso comigo que não seria possível que eu não me acalmasse ou apagasse na cama depois de tanto remédio. Me acalmo? Não!
Tentei dormir, mas fiquei me lembrando do que fez a minha ansiedade começar e isso não me deixou ter sono de jeito nenhum. Mesmo depois desse coquetel de remédios, não durmo desde ontem. Me sinto um merda completo, minha cabeça não para de falar isso pra mim.
Essa é mais uma postagem que venho escrever pra ver se me distraio ou evito fazer idiotices. Nessas horas eu penso muito em suicídio, muito mesmo. Depois de tanta crise e de não ver efeitos da medicação do jeito que você quer, o o que você quer é se matar mesmo, dar um tiro na cabeça, coisa rápida e indolor (na maioria das vezes é essa a cena que eu fico fantasiando).
Merda, eu não quero viver assim. O psiquiatra disse que pensamentos suicidas podem ocorrer nas primeiras semanas com o uso desse Paxtrat e que é preciso esperar um tempo pra ver algum resultado, até entendo mas isso me mata por dentro. Já tomei outros remédios que não funcionaram e parece que nunca vai ter jeito pra mim. Tem horas que a agonia é tão forte que a luz no fim do túnel parece ser preta mesmo. Eu queria uma solução ou alguma coisa parecida. Não quero acordar amanhã (se conseguir dormir) e já começar o dia pensando em me matar. Tô cansado.
domingo, 24 de abril de 2016
segunda-feira, 11 de abril de 2016
O menino e as conchas quebradas
Sábado de manhã e a casa, que quase todo ano parece sem
vida, finalmente está alegre.
- Vamos acordando ou a gente não chega cedo!- grita a mãe.
Os irmãos mais novos acordam na hora, o mais velho também. O
irmão do meio, por algum motivo, não dormiu bem, tem problemas com o sono, sabe
mais ou menos o por quê mas aquela altura não conseguia compreender direito.
Compreenderia mais tarde, lá pros seus 20 anos de idade, mais isso já é outra
história.
Na época o irmão do meio tinha 13 ou 14, vai lembrar? O
negócio é que mesmo cansado acordou. Tomou banho, se vestiu, comeu alguma coisa
e entrou no carro com todo mundo, menos com o pai que não gostava desse tipo de
coisa. Uma hora depois estavam todos no mar. Dia de praia.
Não era um dia muito comum pra ninguém, a família que
parecia sem vida, realmente gostava da praia. A mãe não ficava sentada olhando, ia com todo mundo pro mar brincar e mesmo o irmão do meio, o mais
desanimado, corria direto pra água sempre que a via. Imaginava um dia chegar
até o “quebra-mar” de recifes bem mais adiante. Não sabia nadar tão bem, então
às vezes ficava só olhando, às vezes bolava planos, era como chegar em Marte. O
mar era um fascínio.
- Vamos catar umas conchas, ali tem umas bonitas! - disse a mãe.
Todos se sentaram em uma parte rasa da água e começaram a
procurar. O irmão mais velho não ficou nem por cinco minutos, viu algo mais
interessante e logo saiu. O mais novo logo ficou entediado, foi fazer um
castelo de areia ou outra coisa (mais uma vez, vai lembrar?). E a menina mais
novinha ainda o seguiu. Ficaram a mãe e o irmão do meio procurando “tesouro”.
Ela preferia colocar a mão embaixo da areia fofa mesmo e
levantá-la, vez ou outra vinha uma concha inteira.
- Olha essa! Peguei uma – ela dizia toda hora.
Já ele preferia ficar
de pé, procurar com os olhos alguma coisa que a maré alta poderia ter deixado.
Isso funcionava. Às vezes via alguma coisa diferente por perto, se abaixava e
pegava. E foi assim por alguns minutos, talvez meia hora. Ele andando e ela
parada.
- Olha, mãe, o que eu achei - e ele estendeu as mãos com
várias conchas e pedras pra ela.
- Que bom, deixa eu ver – disse ela.
- Essas aqui você vai jogar fora, não é? – continuou. - Olha
as que eu peguei, nem um risco, você tem várias que estão quebradas, joga isso
fora, menino.
O irmão do meio olhou pra mãe e depois olhou pras conchas.
Não queria se desfazer de nada, via tudo muito bonito mesmo os pedaços de corais
que, aparentemente, não tinham nada a ver com a tarefa.
- Eu não vou jogar nada fora, nem as conchas quebradas –
disse ele.
- Por que não? - ela perguntou. – Tem tanta concha bonita e
completa aqui. Por que você não fica só com elas?
E ele respondeu: “Eu gosto das conchas quebradas. Ninguém
quer as conchas quebradas. Ninguém na praia vai ficar com elas, então eu quero.
São legais também, mas ninguém quer catar” – disse ele- mostrando uma com uma
rachadura bem grande no meio.
- Você não acha que você merece o melhor, a concha mais
bonita do mundo, meu filho?- Ela perguntou.
- Não sei mãe, as que a senhora pegou são bonitas, mas
nenhuma é igual as minhas. São legais porque são quebradas e se eu não
pegá-las, quem vai pegar?.
- Tá bom, leve suas conchas então – ela falou sem nem
retrucar.
A imperfeição das conchas quebradas era algo com que ele se sentia parecido ou era aceitação de que nem tudo é perfeito? Muitos anos depois ele
tentaria entenderia melhor e até escreveria sobre isso
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