Quem já se deu ao trabalho de me acompanhar nesse esgoto de lamentações sabe que uma das minhas maiores dores sempre foi ser um pobre, um pé-rapado vivendo com os pais e tentando contribuir com alguma coisa (muito pouca) para não me sentir tão parasita. Há mais ou menos um ano atrás, perto dos 30 anos, finalmente consegui meu primeiro emprego de carteira assinada. O trabalho pagava muito pouco pelo que eu fazia, mas, no decorrer desse ano, chegaram a reconhecer que meu regime era de mais-valia e acabaram ajustando meu salário para algo mais justo. Comecei ganhando pouco mais de um salário mínimo e agora estou ganhando dois salários. O trabalho também me dá alguns benefícios como plano de saúde e isso acaba fazendo eu economizar em consultas com psiquiatras, que são profissionais caros.
Enfim, há algum tempo tenho pensado em finalmente sair de casa e tenho cogitado financiar um imóvel. Estou dando uma pesquisa e, ao que parece, em teoria, seria possível pagar. O problema é que, diferente da imensa maioria das pessoas comprando imóveis, não sou casado e nem vou compor minha renda com ninguém. Ou seja, consigo menos subsídio dos programas do governo e, se eu ficar desempregado, estarei fudido tendo que pagar prestações de R$ 700,00 sem ter onde cair morto. Mais um vez, sou um cara sozinho, então ficar sem emprego significa que não terei mais ninguém para me ajudar nessa empreitada.
O fato é que quero muito sair de casa. Queria ficar sozinho, na minha, longe de qualquer lembrança ruim que tenho dessa família. Creio que isso vá acontecer ainda esse ano, só não sei se dando todo o meu dinheiro para alguém por aluguel ou vendendo minha alma para o diabo (mais conhecido como banco), financiando um apartamento em 30 anos.