Gostava muito de dias chuvosos quando era criança. Gostava de ir para uma área da nossa casa que tinha uma rede e ficava perto do jardim. Eu tirava a rede das paredes, sentava no chão, me enrolava todo nela e ficava observando a chuva cair. Minha mãe ficava louca, porque chuvas traziam goteiras e, como morávamos em uma região mais afastada da cidade, chuvas também traziam bichos da terra, já que a mesma ficava muito encharcada. Formigas, besouros, mosquitos, outros insetos da terra e sempre aparecia uma cobra ou outra fugindo da água.
Eu não gostava das cobras, mas gostava muito dos dias chuvosos. Eu ficava ali sentado e torcendo para a chuva não acabar tão cedo. Meus dias preferidos eram quando a chuva era fraquinha e o vento muito forte. Os pingos de chuva ficavam praticamente dançando no ar e eu, criança muito imaginativa, fingia que era neve. Nós tínhamos um bom jardim e eu gostava de ver a água escorrendo pelas plantas, o balançar dos coqueiros, a água descendo pela calha.
Pensava muito em coisas de criança enquanto estava ali: escola, meu amiguinhos da rua, meu amiguinhos que não eram da rua e eu queria estar perto, minha mãe, meu pai e videogames (os que eu queria ter). Também pensava muito na praia e como ela estaria num dia daquele. Pensava na cidade e o que as pessoas estariam fazendo nela enquanto eu estava isolado naquele bairro afastado. Pensava nos desenhos que passariam no próximo final de semana. Às vezes, me sentia entediado mesmo com aquele cenário perfeito na minha frente, mas também sabia que levantar para ir fazer outra coisa entediante não resolveria. Então eu ficava ali, admirando o tédio até a chuva parar.
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