domingo, 22 de julho de 2018

Pensando nas probabilidades

Eu tinha muita chances de dar certo: uma família de classe média que nunca me deixou faltar nada, uma educação boa para os padrões do lugar onde morávamos, desde cedo um bom discernimento de certo e errado que me afastou de coisas ruins que grande parte dos adolescentes cometem e uma grande vontade de ser bem sucedido em todos os âmbitos da minha vida. Porém, hoje me encontro parado na vida e tudo isso não me serviu de nada.

Sem emprego, poucos laços de proximidade com as pessoas, vivendo uma vida desconectada da sociedade. Eu sei que a ansiedade e a tristeza associada me fizeram ir contra a maré. Em algum ponto fiquei com tanto medo de viver que joguei a toalha mas continuei fazendo parecer que estava progredindo como uma forma de me enganar. Fiz isso na minha primeira graduação, quando sabia claramente que não servia para aquilo ou para qualquer outra coisa mas empurrei com a barriga como forma de mostrar pra mim mesmo que ao menos estava fazendo alguma coisa. Há muitos anos acho que a minha vida é isso aí, sou eu procurando formas de provar que estou fazendo alguma coisa mas internamente sabendo que não vai dar em nada porque não consigo enfrentar o mundo de jeito nenhum. Não tem citalopram, escitalopram, rivotril, neozine que dê jeito. Na hora que a vida vem me desafiar, eu tento encarar o medo e vou em frente, mas caio rapidamente com tanto desconforto físico e psicológico.

Mas eu era uma criança que tinha muito futuro. Tenho certeza que muita gente pensava o mesmo sobre mim.