domingo, 4 de novembro de 2018

Virando um retardado



É algo que estava esperando algum tempo passar pra escrever sobre, mas acho que agora já posso falar com propriedade pois estou há quase dois anos me sentindo assim. Pois bem, já escrevi aqui o quanto o uso de benzodiazepínicos por um período prolongado e em altas doses ferrou com a minha memória. O que não havia faltado falar é que sinto grande mudança nos meus processos cognitivos e de um ano para cá tenho visto isso se agravar.

Exemplo de coisas que hoje sinto dificuldade:

- Gravar algo que está sendo soletrado (ou mesmo soletrar).
- Digitar números grandes.
- Fazer algumas contas matemáticas simples de cabeça.

Estou estagiando de novo e lá tenho passado por situações bem vergonhosas por conta disso. Quinta-feira passada mesmo alguém estava soletrando um nome pra mim pois a pessoa em questão tinha um nome bem complicado.

- Skull, o nome da pessoa começa com "W".

Nesse momento eu aperto "H".

- Skull, é com "W", aperta "W"!.

Eu continuo apertando "H". Fico encarando a tecla e juro que acho que trata-se da letra "W".

- Mas eu tô apertando "W" - eu digo com convicção.

- Não, isso é "H", Skull - diz a pessoa já sem paciência e já apertando a tecla certa pra mim.

Preciso atender muitos telefonemas e estou sempre passando por situações como essa. Quando não é exatamente isso, são outras coisas que trabalham a minha memória recente. Um exemplo disso são instruções. As pessoas me instruem exatamente como fazer determinada coisa, alguns minutos depois eu pouco lembro do que me foi dado. Em algumas situações as pessoas estão falando e eu não consigo entender nada, é como se estivesse escutando palavras mas elas não fazem sentido juntas. É difícil explicar mas eu quase sinto como se estivesse algo "emperrado" na minha cabeça. Contas matemáticas simples também têm me dado muito trabalho ao ponto de recorrer a calculadora para coisas idiotas.

Há alguns anos atrás eu tinha uma memória ótima, poderia lembrar de coisas muito distantes. Meu raciocínio também nunca foi de um gênio mas era razoavelmente bom nisso. Desconfio que a atual medicação que tomo também tem contribuído pra isso. O neurologista que me consultei não sabe se consigo voltar ao normal, o máximo que e disse foi pra tentar exercitar meu cérebro.