quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Acho que preciso de amigos



Já se vão pelo menos 10 anos sem nenhum bom amigo na minha vida.

A minha adolescência não teve conversas jogadas fora sem nenhum propósito, não fui convidado pra festas de nenhum tipo, não fui a nenhum balada com absolutamente ninguém, show também não. Na minha adolescência não tive nenhum melhor amigo, não tinha grupo nenhum pra ir pra praia nos finais de semana, nem mesmo alguém pra conversar nos intervalos entre as aulas no ensino médio. Não viajei com um grupo de "chegados", pois todas as minhas viagens foram feitas sozinho e passei dias sozinhos sem fazer absolutamente nada. Não recebi nenhuma ligação perguntando "e aí, o que você tá fazendo?!" e, acreditem, nunca ninguém me ligou pra me desejar um feliz aniversário (recadinhos em rede social não contam), também não tive namorada nenhuma já que sem conhecer ninguém isso é impossível. Enfim... não teve nenhum tipo de diversão envolvendo eu e mais alguém. E é isso, tem sido assim desde que me entendo por gente. Muitos conhecidos mas amigo nenhum, e só uma pessoa que vejo a cada três meses (e olhe lá). Aliás, até pouco tempo atrás achava que tinha esse amigo, mas nos vemos tão pouco e temos tido tão pouca coisa pra falar que acho que ele só fala comigo hoje em dia por pena.

Refletindo aqui eu vejo como essa coisa da falta de amigos foi nociva pra mim. Com certeza, esse isolamento acabou com a minha vida e só hoje eu vejo o quanto eu sempre tentei me enganar achando que não precisava dos outros. A verdade é que eu gostaria de ter amigos sim, pelo menos um pra ver regularmente, talvez fazer alguma coisa. É só que essa semana eu estava pensando o quanto é triste, depressivo e desesperador falar uma coisa dessas, mas com 100% de convicção eu posso dizer que sou uma dessas pessoas que não tem amigo nenhum. Estava aqui me sentindo como um fantasma vivendo em sociedade, a sensação é quase essa mesmo. É como não existir, é como se o fato de não ter o mínimo de importância pra ninguém (a não ser os meus pais) reforçasse o ódio que eu sinto de mim mesmo. Eu percebo isso, quanto mais fico sozinho mais minha depressão e sintomas de ansiedade aumentam, tem sido assim ao longo dos anos e hoje já está quase insuportável.

Essa semana eu estava fazendo alguma coisa que não lembro e minha mãe virou pra mim e perguntou "Skull, você não tem nenhum amigo? Você nunca trouxe ninguém aqui em casa, nenhuma namorada, nada, como pode uma coisa dessas?". Olhei pra ela e simplesmente falei: "Mãe, eu não tenho amigo nenhum, você sabe disso" e fui pro meu quarto imaginando a tristeza que ela sentiu. Imagina ter um filho desse jeito. Na hora não doeu em mim, mas depois que eu parei pra pensar naquilo fiquei muito deprimido. Sempre soube que não tinha ninguém pra conversar, mas nunca na mina vida tinha falado isso em voz alta. "Que espécie de ser nojento não amigo nenhum?" eu pensei a noite toda.

Como já falei por aqui, essa minha falta de amigos vem desde que eu era criança, era introvertido demais. Apesar de ainda ser muito tímido, já melhorei bastante nesse quesito, o meu problema é a minha baixa(ou nula) autoestima. Acho que essa merda aí que me fez me afastar das pessoas e ainda me faz dizer "NÃO" sempre que tenho a oportunidade de desenvolver alguma coisa com alguém. Eu tenho verdadeiro terror de ser rejeitado, por que eu acho que me sinto 10 vezes pior do que deveria quando isso acontece (nesses casos sempre tenho crises fortes).

Talvez eu precise de amigos mesmo. O problema é que não sei por onde começar, me parece que depois de uma certa idade fica meio difícil arranjar pessoas pra conversar. A maioria já está com o seu círculos sociais formados. Com certeza eu pequei bastante nisso, sempre fui do tipo que foge de situações sociais à qualquer custo já que não sei me comportar. Seria como aprender o Bê-a-Bá já que habilidade pra conversar e ser interessante eu não tenho.

Ao mesmo tempo que eu acho interessante, também não me vejo sendo amigo de alguém, é como se isso fosse impossível. Não sigo me imaginar sendo uma companhia agradável ou mesmo não fazer uma pessoa ficar entediada, eu me acho asqueroso demais pra isso. Eu sinto quase como se esse "mundo" onde as pessoas se divertem com as outras não fizesse parte do meu, nas raras oportunidades que pude sair com pessoas sempre me perguntava "O que estou fazendo aqui?". Aliás, eu percebo que essa coisa de sair é uma coisa muito comum entre amigos, acho que esse é um dos maiores empecilhos pra mim, eu simplesmente odeio sair de casa ou me comportar como um jovem normal e ir numa festa. Sou socialmente inapto pra conversar numa roda de pessoas tomando cerveja (e simplesmente acho isso um saco) e as pessoas sempre notam esse tipo de coisa.

Então não sei, talvez eu tenha que investir mais e, quem sabe, tenha sorte e encontre alguém igual a mim por aí, o que é improvável já que 99,9% das pessoas da minha idade gostam de coisas diferentes das minhas. Além disso ainda teria que deixar essa maldita depressão um pouco de lado, controlar a ansiedade extrema (que faz tempo que tá fora do controle) e ser mais sociável.

Tenho me sentido mal com essa solidão toda. Há meses estou desempregado e passo meus dias no computador, jogando vídeo game e chorando (principalmente de madrugada, acho a pior parte do dia). Não se se alguém aí consegue conceber isso, mas tenho lavado a minha vida dessa forma mesmo: eu acordo sem nenhum propósito e tenho 0% de contato com pessoas fora de casa. A única coisa que faço de vez em quando é ir pra praia sozinho quando olhar pra parede do meu quarto já está ficando perturbador.

É difícil dizer isso mas amigos pra mim ainda são um mistério. Me sinto cada vez mais sem importância.

Me desculpem pelo texto longo.


4 comentários:

  1. Oi, Skull, primeiro agradeço pelo comentário no meu blog! =)
    Olha, eu também sempre tive muita dificuldade em fazer amigos, mas eu tive "amigos" por dependência, acabava perdendo todos de tão dependente que eu era. Depois de muitas experiências dolorosas eu resolvi me isolar completamente, e passei uns 8 anos sem nenhum amigo, igual você... nada, nem ligação, só rede social e olhe lá... o que me ajudou muito a sair do isolamento foi terapia (meu caso eu faço terapia dialética porque o meu é transtorno de personalidade borderline) e medicamento (não teve jeito, tenho que tomar), o medicamento me deixou menos ansiosa e paranoica, então eu não fico com medo de falar com ninguém, o que fica mais fácil pra fazer amigos, meu círculo de amizades hoje é grande o que me ajuda bastante em relação ao meu transtorno porque meu psiquiatra diz que o isolamento dificulta e piora qualquer transtorno... mas ao mesmo tempo não é culpa sua você não ter amigos, a "doença" te dificulta e pessoas são mesmo um mistério (eu concordo com você rs)... É complicado, você não acha? Eu acho a solidão tão dolorosa, mas ao mesmo tempo, ás vezes acho que as pessoas atrapalham, mas eu gosto de ter elas por perto. Confuso, né? Essa nossa mente... rs

    Se cuida.

    http://www.enlouqueser.com

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    1. De nada, Michele, o prazer foi meu, achei o seu blog muito interessante.

      Você passou 8 anos sem amigo nenhum? Então você deve saber como eu me sinto. É uma sensação de não ter importância que nem dá pra explicar.

      Acho muito bom o fato da terapia e os medicamentos terem funcionado para você. Acho que eu preciso esse mesmo caminho que você seguiu, infelizmente preciso de alguma coisa pra me deixar menos ansioso também, mas até agora só tenho me frustrado com esses remédios, sentindo mais efeito colateral do que melhora. Acho que vou precisar voltar no psiquiatra várias vezes até ele acertar o que eu preciso.

      "Eu acho a solidão tão dolorosa, mas ao mesmo tempo, ás vezes acho que as pessoas atrapalham, mas eu gosto de ter elas por perto." Isso que você falou faz muito sentido pra mim. Acho que quanto mais pessoas você conhece, maiores são as chances de se dar mal. Porém, eu acho que não tem jeito, talvez as pessoas tirem a minha paciência às vezes, mas eu tenho certeza que preciso delas, não tenho mais como me enganar.

      Se cuida também! Estou sempre lendo o que você posta.

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  2. Olá,

    Me identifiquei com várias coisas que escreveu. O que aconteceu comigo é que não mantive vínculos toda vez que tive oportunidade. Mudei tanto de lugar que nunca deu muito tempo e sempre fui avesso a eventos sociais. Mas acho que o principal é que não me permiti desenvolver essas amizades.

    Talvez por não me achar interessante ou que tenha algo a agregar a alguém. Mas o que posso lhe dizer é que, nesse mundo de relacionamentos, quem sai na chuva é para se molhar. Nem sempre vc vai ter interação boa, pode até ser que na maior parte das vezes não o seja. Mas isso é uma coisa que, na minha vivência, aprendi que depende de:

    1) Aceitar as diferenças e entender que às vezes o contraponto é muito enriquecedor

    Talvez existam 0,0001% de pessoas que gostem das mesmas coisas que vc. Ok. Mas pq não abrir a mente e o coração a outros mundos? Experimentar é a palavra. Participar das interações sem a faixa pregada na testa: "Nem adianta tentar, eu vou detestar". Certamente tem muita coisa legal fora do conjunto de coisas que gostas q talvez vc nem conheça.

    2) Qualquer tipo de relação tem que ser cultivada.

    Assim como uma planta, que deve ser regada regularmente. Como vc disse, recadinhos de redes sociais não contam. Olhando meu passado, qtas vezes fiz isso com pessoas que se importam tanto comigo. E o que acontece é que as pessoas acabam se acostumando com a sua ausência. Então, relacionamentos se desenvolve com constância. Se não tem isso, vc acaba não sendo lembrado.

    3) Se permitir

    Se vc não está com o coração aberto a receber pessoas (com todas as imperfeições que elas têm - todos temos), elas não não se aproximar. Muitas vezes eu ando com a faixa na testa "Não quero falar com ninguém". Como as pessoas vão sequer querer saber se sou interessante ou não se já de cara eu coloco um muro intransponível entre nós? Então, tem que se permitir, tentar dar certo.

    Relacionamentos são feitos de risos, dores, alegrias, aborrecimentos, concordâncias, discordâncias, soma, subtração, multiplicação, divisão, etc. Sim, não é um mar de rosas nem com as pessoas 99% compatíveis conosco. Mas a gente só consegue lidar com os bônus e ônus que todo relacionamento tem através de uma coisa: prática.

    Espero ter ajudado. Tudo que falei para vc tenho tentado aplicar para mim. A única certeza que eu posso te dar é: se da maneira atual não está funcionando, tentar outra forma só te traz dois resultados possíveis: não funcionar ou funcionar. Então, o que ter a perder?

    Força e tenho certeza que tens muitas coisas legais para mostrar para o mundo. Só o fato de vc ter pensado na dor da tua mãe qdo respondeu a ela, já mostra uma coisa muito em falta no mundo: sensibilidade em relação aos sentimentos de alguém. Sim, isso é uma coisa boa.

    Abs

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    1. Eu gostei muito de tudo o que você falou aqui. Pra mim, tudo o que você escreveu faz todo sentido.

      Acho que o meu problema (que você também mencionou) é o fato de eu não me achar interessante pra ninguém. Mas isso vem de muitos anos atrás, às vezes eu juro que me pego pensando que eu não mereço amigo nenhum, que eu não sou digno. É uma sensação de inferioridade mesmo que eu comecei a sentir depois que algumas coisas aconteceram há algum tempo.

      Eu sei que a minha luta é interna, eu preciso colocar na minha cabeça que eu não preciso cumprir essa penitência, mas eu sempre me acabo me achando um lixo no final das contas por inúmeros fatores. Daí o item número 5 (Se permitir) não acontece, me sinto muito mal pra isso. Você também não conseguiu se permitir desenvolver esses relacionamentos, né?

      Acho que eu não tenho problemas em aceitar os defeitos das pessoas, me acho até bem tolerante. Eu não consigo aceitar os meus defeitos, várias vezes fico pensando que sou um cara azarado que nasceu com péssimas características físicas e mentais. Eu sei que eu preciso ser tolerante comigo mesmo, a terapia me ajudou um pouco a enxergar isso.

      Muito obrigado por comentar aqui, acho que não vou conseguir esquecer o seu comentário.

      Abraço.


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