quinta-feira, 24 de março de 2016

Morar no exterior e a depressão

Acho que já contei aqui que já morei em uma uma república e que não foi uma experiência nada boa. Acho que a parte que não contei é que, na verdade, morei um tempo longe de casa, fora do país pra ser mais preciso.

Eu sabia que ter essa experiência seria difícil,, mas já havia juntado tanto dinheiro pra isso, achando que faria alguma diferença na hora de arranjar um emprego que achei que não poderia desistir. E não desisti mesmo. Na época eu ainda me negava a recorrer a qualquer tipo de ajuda. resultado: quase um ano depressivo longe de tudo e de todos num lugar onde tudo era estranho pra mim e cheio de pessoas com as quais eu não estava preparado pra lidar.

Hoje não sei se me arrependo da experiência, talvez sim pois foi, provavelmente, o ano no qual eu mais me senti sozinho em toda a minha vida, Às vezes saía pela cidade, caminhava pelas ruas sem fazer nada, eu não tinha vontade de fazer nada e mesmo quando planejava algo que achava que seria legal, acabava por ser chato já que eu não estava bem. Outra coisa que sentia muito era a sensação de não pertencimento. Lógico, outro país, outros hábitos, mas eu me sentia em outro universo, um sentimento ainda mais forte do que o habitual que sempre senti.

Dia desses assisti um filme chamado "Encontros e Desencontros" (que acabou virando um dos meus filmes favoritos) e me identifiquei muito com os personagens, nem tanto por causa dos problemas com a língua (eles sofrem muito com essa barreira no filme) pois sabia um pouco, mas pela estranheza de estar em uma cidade grande sem conhecer ninguém e distante de tudo que era acostumado. Além disso, eles não sabiam exatamente o que queriam da vida, assim como eu. Coloquei uma cena que gosto muito abaixo. Essa sensação de caminhar sozinho, não só na rua, mas na sua cabeça. Há muita gente, mas nenhuma delas importa, no meu caso, quase não me enxergava como pessoa, era mais como uma coisa andando por aí, tentando prestar atenção em alguma coisa que me distraísse.

O lado bom é que eu acho que testei os meus limites. Não morri. Tive crises depressivas e de ansiedade e lidei com tudo sem ajudada de nada, eu sobrevive. Fui extremamente imprudente, pois sabia que estava na pior, mas prossegui, fui teimoso. Porém, talvez, no fim das contas, eu aprendi uma lição. Talvez eu já tenha vindo aqui falar que já cheguei no meu limite, mas analisando direito, depois de tudo aquilo, eu acho que meu limite ainda não chegou ou então eu teria me matado lá mesmo. Nossa, eu tive cada dia ruim, tantos sintomas, tanta tristeza durante tantas semanas sem parar.

Recomendo essa experiência pra uma pessoa que está passando por dificuldades parecidas? A resposta é um sonoro NÃO. Diria que é melhor se cuidar com o apoio das pessoas que você gosta (se você tiver esse tipo de apoio) e procurar um atendimento psiquiátrico ou psicológico mesmo, pois quando olho pra trás e penso naquele ano acho que foi meio que um obstáculo muito alto que eu achei que saberia lidar, mas não soube. Eu acho também que algumas pessoas vão em busca de coisa parecida como uma forma de fugir de algum problema que possuem. Não sei com relação aos outros, se essas pessoas conseguem fazer isso ou não, mas segundo a minha experiência, você pode se afastar de tudo e de todos, mas os sentimentos você carrega pra sempre, não importa onde.


18 comentários:

  1. Fala Skull! Não assiste ao filme, mas essa cena diz muito (escrevi em um post it para assistir mais tarde:) . Já fiz algo semelhante ao que você falou, viajei sozinho de mochilão; quando mudava de cidade e eu estava sozinho, a depressão batia, ai, bebia muito e esperava o próximo dia, que com sorte seria melhor, senão bebia muito outra vez. Já quando encontrava outras pessoas com afinidades em comum, ai sim, me via na cena do filme acima, só que acompanhado, sozinho jamais visitaria lugares, que paradoxo.

    Desculpa a suposição, no meu caso, parece que eu sempre estava procurando alguém, não me sentia bem sozinho, não conseguia fazer coisas divertidas sozinho, tanto é, que bebia muito para acalmar a minha mente negativa e acelerada (Ps. Beber muito = mais de duas garrafas de vinho ou mais de três litros de cerveja). Já quando encontrava outras pessoas com afinidades, conseguia me divertir, tinha ânimo, ai, o negativo não tinha tempo para me atormentar, pois estava sempre fazendo algo prazeroso e novo (Ps. Talvez ai bebesse mais :) .

    Abração!

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    1. Tudo bem, Exceter?

      Eu estava em uma época que estava tentando me enganar. Pra mim, eu deveria me conformar que era uma pessoa solitária por natureza e seria assim mesmo para sempre. Na minha cabeça, além de me ajudar a arranjar um emprego depois, eu me divertiria sozinho vendo coisas novas toda hora em outro lugar. Grande engano. O pior era que acompanhado ou desacompanhado eu me sentia como a cena do filme, um ser ambulante olhando pra um lado e pro outro tentando me animar sem êxito. Eu tava deprimido, sabia disso e fui teimoso.

      Mas interessante o fato de você só se sentir solitário como no filme quando estava acompanhado.

      Você tava em tratamento ou algo do tipo na época que viajou? Escreveria sobre isso? Gostaria de saber mais sobre experiências parecidas. Sempre que ouço alguém falando que mochilou por aí, só ouço coisas boas.

      Será que talvez foi porque não foi só um mochilão? Eu realmente morei fora um tempo. Imagino que mochilões sejam uma coisa mais intensa, você nunca fica parado eu imagino. Não sei. Só sei que minha experiência foi um lixo já que eu me sentia um lixo.

      E sim, já que não tinha ansiolítico apelava pra bebida também, eu bebi demais na época.

      Abraço, Exceter!

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  2. A Parte do filme que você citou, escrevi mal; acompanhado me sentia melhor, feliz e saia para visitar lugares com a disposição que me faltava quando sozinho. No fim das contas, o que guardo não são os lugares, mas sim, as situações que aconteceram...

    Na época nem imaginava ter TAB, sempre fui depressivo e para mim, olhar o mundo sempre pelo pior cenário possível e negativamente era normal. A decisão da viajem já foi um ato impulsivo, em uma semana me arrumei para um mochilão de quase 6 meses e como você, estava em uma fase bem depressiva, queria fugir disso e consegui em partes; tive muitos momentos depressivos e outros tantos de "impulsividade".

    Vou escrever sim, vou buscar alguns momentos que sem encaixem com o proposito do blog. Realmente o mochilão é bem intenso, te força a conhecer gente nova, te mostra que sozinho você não faria nem a metade das coisas que faz acompanhado, te faz viajar com pessoas que você não gosta pois sem elas você não viajaria...

    Abraço!

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    1. Espero ouvir mais dessa sua experiência então, rapaz. Parece bem interessante. Sempre é interessante.

      Acho o mundo tão grande, é tanta gente, tanto de jeito de agir e pensar... nem precisa sair do país pra isso. Eu já achava o mundo tão louco mas quando saí pra realmente ver ele me parecia que o louco era eu.

      Enfim, continuo te acompanhando.

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  3. Vivo ma Itália há um ano. Por sorte estou quase sempre cercado de amigos do meu namorado, sendo que tenho afinidade com 2 deles. Mas sua sensação de solidão é compreensível a mim, pois passo a maior parede do tempo sozinho. Estou numa cidade pequena, quase divisa com a Croácia. A cor da minha pele distoa a das pessoas aqui, o que me faz sempre ser muito observado, me causa incomodo. Bate ansiedade e logo vem os pensamentos: o que tanto olham? Qualquer passeio perde a graça por conta disso porque simplesmente não me sinto parte de absolutamente nada aqui. Vivo muito bem, muito mesmo, conheço lugares novos sempre, praias lindas, estou cercado de cultura mas mesmo assim falta alguma coisa. Eu penso: se algum amigo meu tivesse aqui eu certamente me divertiria muito mais. O italiano não é difícil mas falar às vezes me cansa, não me expresso, pareço um robô que repete palavras aprendidas acaso com Meus erros, bate a ânsia. As pessoas dizem "você fala melhor que até muito italiano" (eles pecam muito na gramática) e isso não me anima. Tento procurar emprego mas me sinto pressionado só de pensar na entrevista e travar na hora do colóquio, porque eles aqui falam demais, tipo DEMAIS e eu não sou o tipo de cara que curte falar demais com pessoas que nem conheço bem, não existe animo. Pra eles conversa é "ontem fui ao médico e peguei um apontamento para hoje e espero que vá tudo bem, lembrando que o prossigo final de semana tem uma festa em tal lugar e eu gostaria muito de ir. Você viu o programa de fulana ?(chato, aliás), eu morri de rir". Vejo os problemas sociais deste país e me
    Fico perguntando o que significa estar em país de primeiro mundo.
    Um amigo do meu marido disse que eu deveria absorver mais o jeito europeu, ter mais "pressa", do que vejo aqui, eles vivem na verdade estressados por qualquer coisa, aí vira tudo motivo de piadinha, se "incazzam" por nada, vivem do bom e do melhor e acham ruim, tudo perfeito, belos jardins, belas vias, trens para poder cortar o país facilmente, lugares lindos, ótima saúde pública, ótimas escolas e universidades, ótimos vinhos e comidas, cultura sendo respirada... E não vivem felizes! Eles têm dinheiro para viver e se divertir mas, segundo eles, as coisas "não vão bem e a Itália ja foi melhor". E QUEREM QUE EU SEJA COMO ELES?
    Sinceramente senhores estou tentando suportar isso. Mas se alguém menoridade o cobselho de morar fora um dia eu direi "fique no Brasil, ajeita sua vida aí porque é a casa sua".
    Vou procurar um psicólogo aqui, está foda.

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    1. Passei mais ou menos o tempo que você já está morando fora (já estou no Brasil). Não sei se consegui entender a cultura do povo, mas percebi que, especialmente, nas menores cidades, você é muito mais notado por ser "diferente". Não achava tão ruim, digo, não os julgava pois prestar atenção no que é diferente é normal, mas ninguém gosta de ficar chamando muita atenção, acredito que você saiba do que estou falando.

      A questão da língua, como você bem falou, é outra dificuldade. Claro que a gente vai aprendendo e ficando melhor nela, mas quase sempre fica aquela ansiedade de ouvir algo que não conhece e ficar com cara de idiota olhando sem saber nada. Que bom que esse problema você pare estar progredindo (não desista, língua é assim mesmo).

      Voltando a falar da cultura, como eu disse, passei mais ou menos um ano fora e tive muito contato com pessoas nativas, mas sabe que até hoje não sei dizer se as pessoas vivem felizes ou não? Não sei como é a cultura italiana, mas para onde fui ser muito expressivo não é muito comum, é difícil saber como as pessoas estão se sentindo. Achei o que vi e o que você falou, no mínimo, interessante.

      Bom, mais do que isso eu não sei o que dizer. Acho que encontrei uma pessoa que passa por algo que passei, que sabe como é difícil. Não tive a oportunidade de ir a um psicólogo no período que estava fora, mas se você tem condições, pode ser uma boa.

      Desejo o melhor e muita força. Força de vontade mesmo se ficar por aí é o que você realmente quer.

      Abraço!

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    2. Me identifiquei com vc, moro na Alemanha e parece que aqui ainda é pior, moro em uma cidade bem pequena, não tem nada para fazer, a não ser um lugar onde se pode tomar banho de piscina, mas de resto só tem isso mesmo, moro aqui a pouco tempo mas me sinto já na depre, a lingua é super dificil de entender, um alemão falando nossa mais complicado ainda, tem uns que nem paciência tem, outro fato é que com a entrada de tantos refugiados as pessoas te olham de um jeito diferente ainda mais se não fala a língua, a cidade pequena, sem ninguém para conversar pessoalmente, sem trabalho e não saber a língua dificulta bastante :/ estudo o idioma todos os dias, mas estou me desanimando, poxa que saudades de casa :'(

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    3. Apesar de não ter sofrido tanto com a língua, sei que é difícil mesmo. Você sempre se sente inseguro pra falar.

      Se você está aí há pouco tempo, talvez ainda não tenha se acostumado com as coisas. Talvez não tenha conhecido alguém pra passar o tempo. Acho que isso pode ajudar se você for uma pessoa muito comunicativa mas que agora se vê numa situação de isolamento.

      Tomara que as coisas melhorem nos próximos dias pra você. É difícil mesmo, nem todo mundo consegue deixar a casa pra trás.

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    4. Nossa Thiago...Como vc esta???
      Eu estou passando pela mesma situaçao que vc e gostaria de saber se vc està melhor!
      Estou na Italia esta fazendo 1 ano...sinto que preciso de ajuda tbm...tentei trabalhar em 4 lugares...quando nao me tratavam mal, o povo era mal humorado...ou nao me pagavam!
      Tenso viu gente...eu sai do Brasil por conta da violencia, mas viver se sentindo sozinha, sem realizaçao profissional e deslocada...tem sido horrivel...
      (me desculpem a falta de acento, o teclado aqui nao tem)
      Enfim, se ainda estiver na Italia e puder entra em contato comigo, te agradeço para trocarmos experiencias!
      meu e-mail: suellen.marquezini@gmail.com

      obrigada!!!

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  4. Olá a todos. Thiago, espero que esteja bem apos ter passado algum tempo. Me identifiquei com voce tambem. Moro fora do Brasil com minha namorada tem sete meses e as vezes sinto coisas similares ao que voce sente. Tambem estou pensando em procurar um psicologo pois esta dificil pra mim. Espero que todos estejam bem.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Skull, também me identifiquei muito com o que vc escreveu! Estou só no começo dessa viagem, espero que depois possa existir algum tipo de sentimento "bom", nem que seja esse de "consegui". Bancar uma viagem que de antemão já se sabia ser difícil, testar os próprios limites, a questão profissional, a sensação de não pertencimento...poxa, bem parecido. Bom ler isso, pq pro mundo uma "chance" dessa parece a oitava maravilha do mundo.Obrigada!

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    1. Se você já está morando fora, desejo muito boa sorte. Desejo, de coração, que tudo ocorra bem e que não seja uma experiência traumática. Tomara que as únicas vezes que você vai parar pra pensar sejam pra pensar em quando a experiência está sendo boa, o quanto está te ajudando a ver que o mundo é muito grande, com muitas coisas diferentes por aí.

      Na verdade, viajar é legal, mas é bom ir preparado. Se você ainda não saiu, espero que se planeje direito e corra atrás desse objetivo se achar que deve.

      Abraço.

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    2. Eu estou morando fora há um mês. Não é nada fácil, mas espero que algumas boas surpresas ocorram neste ano e neste novo cenário. Obrigada, Skull! Desejo que vc esteja bem, que fique bem!

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    3. Já está fora, né? Que bom!
      Já deve ter enfrentado um monte de coisas nesse mês. Não sei se ainda vai voltar aqui pra responder mas vou perguntar: como está? Qual o balança que faz desse período?

      Abraço.

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    4. O primeiro mês foi difícil! Sensação de estar fora do espaço e do tempo, "adaptação" do corpo ao ar, à água, ao sono e "chave de seleção" das línguas lenta (mais um tanto de solidão, ansiedade e saudade). Melhorou agora no segundo mês e já joguei fora várias coisas equivocadas que pensava sobre mim mesma!Acho que isso está sendo o mais importante por agora! :)

      Um abraço

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    5. Que bom que você voltou pra contar como tem sido. Que bom que as coisas estão melhorando agora também.

      Essa questão da adaptação é uma coisa decisiva, algumas pessoas se adaptam e seguem em frente, outras pessoas, não.
      Mesmo com todos os mínimos detalhes planejados, morar fora é sempre um grande salto no desconhecido. Tudo pode acontecer e estar só deixa a coisa muito difícil para o ansioso.

      Legal que isso já te serviu como uma forma de refletir sobre si mesma de uma maneira positiva. Se você tinha alguma dúvida de que não daria conta, acho que depois desse tempo considerável, é uma coisa que já ficou pra trás.

      Abraço e boa sorte.

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  7. É fogo. Moro quase um ano fora do Brasil com meu pai e minha filha de 2 anos. Trabalho e vou começar a faculdade..vou contar uma coisa, é bem difícil para mim conviver com alguns traços da cultura e as pessoas em si.
    Primeiro já começa no jeito de falar,quando escutam o famoso sotaque brasileiro, todos olhos se voltam para mim rs. É chato! Me sinto um E.T
    Segundo que o povo é super fechado para fazer amizades, já tentei me aproximar no trabalho com nativos e foi tudo muito distante.
    Tenho tudo e ao mesmo tempo não tenho nada, me sinto vazia, frustrada e triste.
    Mas vivo um dia de cada, penso na minha filha e tal.. Sem dúvidas aqui é mais tranquilo para viver com crianças.

    Me envolvi com um ( namorado do local) e é muito diferente de tudo que conheço e tenho referência. Os hábitos, modo de pensar e até mesmo as coisas que diz espontaneamente...me sinto perdida entre o que é da criação e o que é da cultura do País...
    Enquanto eu me faço mil perguntas, continuo vivendo na minha própria solidão.
    Estou quase procurando ajuda de um profissional.

    Cumprimentos

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