quarta-feira, 9 de março de 2016

Retrato de uma semana ruim (ou tendo um ataque de pânico na entrevista de emprego)

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Eu sabia que essa semana ia acabar assim mesmo, na verdade eu não sei como isso não aconteceu há alguns dias atrás quando escrevi minha última postagem. Coração acelerado, suando frio, falta de ar, tontura, confusão mental... passei mal no meio da entrevista de emprego e deixei a pessoa que me recebeu sem entender nada.

- Desculpa, eu não tô me sentindo bem.
- Está nervoso? Passando bem? Não se preocupe, só estamos conversando. Quer uma água?
- Não, eu acho que vou embora, desculpa. E vou pela porta apressado.

Saio do estabelecimento meio que sem saber o que fazer, minha garganta e barriga doíam, é adrenalina demais. Tinha uma praça na frente, eu vou procurar um lugar pra sentar (ou tombar). Jogo a mochila em cima do banco e sento olhando pro chão, tentando respirar, não dá certo. Tento todas as posições que conheço e percebo que sentado fico pior. Levanto e tento fazer algum exercício de respiração... “Essa merda nunca funciona comigo!”. Não tem outro jeito: pego o celular com as minhas mãos geladas e ligo pro meu pai, digo que estou passando mal e queria que ele me buscasse. E esperar foi a pior parte. Fiquei lá sofrendo por uns 20 minutos, pensando em um monte de coisas que já escrevi aqui. Minha cabeça sabe trazer tudo de ruim que eu penso pra esse momento, vou lembrando de várias situações, cada uma pior do que a outra. Penso também no que vou fazer quando chegar em casa, meus remédios acabaram.  Ir pra emergência? Estava decidido, só esperaria meu pai chegar pra me levar, queria um sedativo, qualquer coisa.

Na hora a gente acha que vai morrer e quando isso acontece é nisso mesmo que eu penso: morrer logo de uma vez, acabar logo essa palhaçada. É assim que eu me sinto: um palhaço, acordando todo dia pra ver a vida rindo de mim e nessas crises esse sentimento é multiplicado por 10. É um desejo que nem dá pra explicar, é impulsivo mas é feroz, parece a hora perfeita pra dar um fim e, por alguns instantes, parece que vale muito a pena. Depois da crise eu fico assustado com as coisas que eu penso mas é isso aí que vem na minha cabeça.

A falta de ar e a cabeça não dão trégua. Sento e levanto do banco várias vezes pra ver se faz alguma diferença. Nada muda. Resolvo deitar e olhar pro céu e aí respiro um pouco melhor. E finalmente meu cérebro começa a funcionar melhor: “Ao menos não estou mais fazendo a entrevista, poderia estar pior. Pelo menos não estou mais lá dentro.” Percebo que esse pensamento me ajuda e continuo tentando focar nele. “Mas eu pareci um idiota na frente da moça, nunca vou conseguir um emprego”, minha ansiedade sobe. “Eu nunca mais vou vê-la mesmo”, minha ansiedade desce. E fico assim por um bom tempo pensando sobre um monte de coisas sobre mim, uma montanha-russa.

Meu pai nem me ligou pra saber onde eu estava, ele já sabia que provavelmente estaria tentando me acalmar ali. Olha pra minha cara e pergunta se eu quero ir pro hospital. Eu vou, deixo meu pai explicar a situação e eles me dão um sedativo, finalmente tenho vontade de dormir. Depois de algumas horas decido ir pra casa.

Fui ao psiquiatra novamente e fiz questão de pedir alguma coisa pra dormir, de volta  ao Lioram e Bromazepam. Tomei uma dose alta agora, ainda me sinto um lixo, mas pelo menos meu corpo se acalmou.

4 comentários:

  1. Puxa, lamento pelo acontecido. Já passei pela mesma situação três vezes mas em clientes. Só consegui me acalmar depois de vários minutos no telefone com alguém conhecido e esperando o Rivotril fazer efeito.

    Se serve de conselho, pense no que deu certo no dia, no que vc viu que te acalmou mesmo q por poucos instantes. Claro que nem sempre a mesma técnica funciona sempre mas é bom ter uma lista delas nesse momento.

    Sobre o emprego, vc terá outras oportunidades. Aliás recomendo ver as histórias de quem passou por momentos semelhantes em entrevistas. E ir treinando com as entrevistas que aparecerem. Uma hora vc vai dominar a situação, não sei te dizer se vai ser rápido ou não. Mas precisamos tentar não é?

    Boa sorte e estou sempre torcendo por vc.

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  2. Passar por isso na frente dos outros é muito ruim. Não basta achar que vai morrer, tem que encarar a vergonha de ter isso com outras pessoas vendo.

    Eu tenho pensado nisso que você falou mesmo, se o mesmo acontecer, vou tentar usar a mesma técnica.

    Sobre o emprego, não sei não, já fui em umas 10 entrevistas e nunca ninguém me chama. Não sei, eu tento parecer simpático, mas eu já estou achando que as pessoas não gostam de mim mesmo. Só vejo essa explicação.

    Obrigado, a torcida é mútua.

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  3. Oi Skull, vc me descreveu um pouco nesse texto, tbm sempre passei por esse tipo de coisa, mas graças a deus em menor intensidade, sei como e queria te falar uma coisa q percebi: quanto mais vc conviver em sociedade, lugares cheios, conversar com pessoas numa festa..., mais essa sensação diminui, e no se caso provavelmente iria ajudar bastante vc conversar com pessoas q tbm estão procurando emprego, sabe, vcs conversam, trocam experiências e aí no dia da entrevista vc lembra de tal pessoa q falou uma coisa parecida com seu e q ela tbm ficou nervosa, esse tipo de coisa! Ajuda muito pq na hora de passar pela situação vc começa a pensar q todo mundo fica nervoso em entrevistas de emprego e q aquela mulher q está te avaliando avalia um monte de gente todos os dias, e talvez vc nem seja o pior ou mais nervoso q ela já entrevistou!! ;-)
    Comigo isso ajudou bastante.

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    1. Oi, Alana, Obrigado por comentar.

      Obrigado pelas dicas. Na verdade, essa coisa de me expor mais a situações sociais já foi uma tática que tentei utilizar. Pensei bem como você falou "Eu acho que quanto mais eu me colocar à prova, mais acostumado vou ficar" e fiz isso várias vezes. No meu caso não me ajudou, acho que até piorou. Não tinha nenhum tipo de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico até mais um ano atrás. Essas situações me colocavam ainda mais pra baixo. Hoje, controlando a minha ansiedade um pouco, tenho tentado fazer isso de novo, mas tem horas que não consigo como foi o caso dessa entrevista de emprego aí. Mas eu acho ótimo que funcionou com você, quanto menos ansiedade melhor.

      Mais uma vez, obrigado, Alana.

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